Que filme, o diretor Quentin Tarantino lança mais uma "pintura", Django Livre,
em cartaz em todos os cinemas do país. Vamos cortar todos os preâmbulos
sobre quem é Tarantino e o que ele fez, já que todos devem estar
cansados disso, mas cabe dizer que desde o lançamento de Kill Bill, o diretor vem conseguindo imprimir a sua “marca” distintiva em filmes de gêneros absolutamente díspares – e Django Livre não é exceção.
Ame-o ou deixe-o, Tarantino é um dos poucos diretores da atualidade
que consegue ser autoral e, ao mesmo tempo, encher os bolsos com um
orçamento milionário. Ou seja, ele filma o que quer e como quer, usando o
dinheiro dos estúdios, sem intervenções dos executivos. Sendo o único diretor que consegue colocar litros de sangue falso
espirrando na tela e, ainda assim, conseguir que seu filme seja indicado
ao Oscar. Faz pouco caso das acusações racistas (e imbecis) de
Spike Lee, e sai com sua reputação incólume. Enfim, o cara é, de fato,
diferente. Django Livre é o seu melhor trabalho até o momento em representar um HÉROI DE HQ nas Telonas. O TEMA abordado no HQ se adequa perfeitamente no estilo da “vingança” que aparece em todos os trabalhos de
Tarantino, Django não constitui exceção, mas aqui cabe uma
novidade: trata-se do filme mais romântico dele até o momento.
Todas as motivações do personagem giram em torno da busca pela sua amada
de quem foi, há muito tempo, levada. Assim, a epopeia do escravo que é
libertado para ajudar um caçador de recompensas a localizar três alvos,
e acaba virando parceiro dele torna-se, no final das contas, uma
história de amor, idealização, sonhos e bem… um "pouquinho" de vingança, of corse. Com Django Livre, ele faz sua singela homenagem aos faroestes
dos anos 1960 e 1970. Isso, influencia sua forma de filmar. Pela
primeira vez, o diretor faz grandes tomadas abertas mostrando cenários
incríveis com campos e montanhas, lembrando em diversos momentos
diretores como o grande Sergio Leone (responsável por ressuscitar o
gênero ao lado de Clint Eastwood com seu filme de 1964, Por um Punhado de Dólares) Sergio Corbucci (autor do Django original)
e Enzo Castellari. O bom humor de Don Siegel e a grandiosidade de John
Ford, ambos americanos, também podem ser notados como influências
claras. Ele também abusa da câmera lenta e dos closes impactantes.
Sua notável qualidade, foi influênciada pelos faroestes. Neste filme, encontramos mais frases de efeito do que de
costume em situações que beiram o piegas e são propositadamente, chavão,
mas mesmo em se tratando de um filme de época, o diretor é capaz de
inserir aqui e ali a sua marca mais característica: os diálogos
brilhantes.
O principal mérito aos exelentes diálogos, vai para o personagem de Christoph Waltz,
o Dr. King Schultz. O expectador não questiona nem por um segundo o
absurdo da situação (um alemão contratado pelo governo dos EUA para ser
caçador de recompensas), tamanho é o carisma de Waltz. Articulado,
cínico, simpático, engraçado e letal, ele rouba todas as cenas em que
participa. Tal qual ocorre em Pulp Fiction
(em que o expectador ficava na dúvida se John Travolta era mesmo o
protagonista, já que Samuel Jackson o eclipsava todas as vezes em que
aparecia), desta vez é Jamie Foxx que desaparece cada
vez que o germânico entra em cena. Não entendam mal, Foxx está ótimo
como Django, mas Waltz simplesmente brilha como diamante. Leonardo DiCaprio prova, mais uma vez, que esta a virar um grande ator. Se alguém ainda guarda alguma birra com ele por causa de Titanic,
já passou a hora de superar isso. Ele está excelente. Seu personagem é
um janota almofadinha, porém em cada instante, mostra
periculosidade no olhar; um tipo de ameaça escondida lá no fundo por uma
única razão: ele gosta mais de dinheiro do que de machucar os outros.
Participações como a de Don Johnson e uma ponta do lendário Franco Nero
enriquecem ainda mais o filme, isso sem contar a divertida participação
do próprio Tarantino, cujo destino em tela é, no mínimo, hilário. Não posso deixar de falar da participação especial de Franco Nero.
O roteiro não é, de forma alguma, racista – como alegaram várias
fontes menos esclarecidas. Hollywood ainda não produziu sua obra-prima com o tema
“escravidão” (o próprio Brasil tem exemplos excelentes como Quilombo e Xica da Silva), embora filmes excepcionais que abordem o problema do racismo já tenham sido feitos, como A Cor Púrpura e Mississipi em Chamas – mas Django Livre é, sem dúvida, um dos melhores do gênero. Ele não procura apelar ao sentimentalismo barato como, digamos, Amistad, ou é excessivamente dramático e didático, como a minissérie Raízes,
mas prefere seguir outro caminho – um que não comprometa as
características intrínsecas à forma de filmar do diretor. Um exemplo
disso é a sensacional tiração de sarro que ele promove quando mostra a
Ku Klux Klan, numa das melhores cenas do longa.
Com 165 minutos de duração, Django Livre poderia muito bem ter
uns 20 minutos a menos. O filme não chega a ficar arrastado, mas certas
gordurinhas não fariam falta em um ou outro momento. Como disse, nada
que comprometa o ritmo.
Infelizmente, hoje em dia o cinema norte-americano tem poucos caras
como Tarantino, rendendo-se a diretores compartimentados e formatados,
que precisam se render às vontades de produtores. Do contrário, mais
grandes obras como essa seriam disponibilizadas ao público.
Por: VeiTiba
Crítica: 9,5 TV'S
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